sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Diário de Minha chegada à Forquilha




Era uma tarde de sexta feira do dia 06 de Janeiro de 1.984, parecia um dia qualquer, mas não era. Era uma tarde de sol causticante com a temperatura por volta dos 38 graus, e não podia ser diferente já que estávamos vivenciando uma das grandes secas da história, que castigava impiedosamente o nosso ceará, com o calor dos raios solares abrasando a vegetação da caatinga deixando-a cinzenta como se um fogo tivesse arrasado toda terra. Era realmente um quadro desolador para o sertanejo que ciclicamente padece com a presença da estiagem (seca) e que no então Distrito de Sobral hoje Forquilha o meio ambiente dava o testemunho da ação devastadora desse fenômeno natural. Lembro-me com se fosse hoje a minha chegada abordo do ônibus da empresa BRASILEIRO (hoje somente recordações) por volta das 16 horas, passando por cima da parede do açude Forquilha, quando dei de vista com um cenário estarrecedor, que não combinava com a expectativa que tracei na minha imaginação. O açude seco, com muita lama, tocos e ruínas dos túmulos do antigo cemitério da comunidade de campo novo a amostras. Era de fato algo muito triste que certamente perturbava a auto-estima dos agricultores e irrigantes do perímetro de Forquilha. Já na curva da parede principal olhei a minha direita, vi a planície do rio madeira, e pude imaginar que se tratava das áreas irrigadas onde eu iria trabalhar como técnico assistindo aos irrigantes ali assentados. Quando o BRASILEIRO parou em frente ao restaurante O CABRINHA para que eu descesse, algumas pessoas se aproximaram de mim, um garoto muito animado dizendo que este lugar era forquilha me olhou fixamente como quem dissesse desça e seja feliz. Tratava-se de ELDER Fonfom (in memóriam),um adolescente esperto, alegre, receptivo, que tinha dificuldade de falar em virtude de ser acometido pelo Lábio Leporino, mas que levava uma vida extrovertida de dar noticias de tudo do lugar a quem por ali passasse. Foi ele o meu primeiro contato com gente Forquilhense. Tirei minha bagagem que não era tanta e fiquei parado na calçada, vendo o ônibus sair e me deixar naquele terra estranha que nem mesmo eu imaginava se tratar do lugar onde eu iria morar pelo resto de minha vida. Pude em poucos instantes imaginar muitas coisas, se as pessoas eram acolhedoras, se teria bons colegas de trabalho, pois naquele momento eu estava sozinho longe de casa sem conhecer ninguém, iria precisar de muita sorte. E pensei onde iria ficar. Já trazia de Fortaleza a indicação de que o hotel do DNOCS seria a melhor opção. Parecia que o ELDER estava lendo meus pensamentos e logo foi dizendo que o hotel do DNOCS ficava a uns quinhentos metros dali, e que se eu quisesse me levaria até lá, achei interessante a disposição daquele garoto engraçado que quase não entendia o que falava Aceitei sua proposta sem ao menos entrar no restaurante O CABRINHA, afinal eu estava cansado e meu dinheiro não era tanto para pagar o táxi do Gil ou do Damásio (in memóriam). Coloquei minha bagagem na garupa da bicicleta do Elder e sai com ele até o hotel do DNOCS, fiz questão de levá-lo guiando a bicicleta, pois achei que ele não tivesse forças necessárias para me conduzir. Quando nos aproximamos do hotel o ELDER foi logo gritando pro Lisboa que estava trazendo um novo hospede que iria trabalhar no DNOCS. Tirei um trocado do bolso que não me recordo quanto e entreguei-o, e agradeci por ter me trazido até ali, ele ficou contente e disse que qualquer coisa estava às ordens, montou na bicicleta e saiu de alto a baixo, uma sena que nunca esqueço. Apresentei-me ao Sr. Lisboa, dizendo que estava vindo DE MAURITI para assumir um emprego no DNOCS como Técnico Agrícola e que gostaria de ficar hospedado no seu Hotel por algum tempo, e que o pagamento da hospedagem faria mensalmente quando recebesse o dinheiro de meu trabalho. O Sr. Lisboa que também era funcionário do DNOCS compreendeu minha proposta me recepcionando muito bem... Naquele mesmo dia eu tratei de não sair do hotel, pois estava em terras estranhas e sair à noite não seria interessante. No dia seguinte sábado 07 de janeiro de 1.984 busquei informações mais detalhada acerca do perímetro e dos funcionários, futuros colegas de trabalho com o Sr. Lisboa e sua esposa Zulanda que também era do DNOCS... Informaram-me que havia muitos funcionários na gerencia local, aproximadamente uns 80 servidores... Que o perímetro tinha 69 irrigantes e que sua principal atividade era a pecuária leiteira, com culturas irrigadas de feijão e milho... Fiquei sabendo ainda que no domingo dia 08 (janeiro de 1.984) iria realiza-se um plebiscito no distrito com a população decidindo se Forquilha passaria a município... Foram muitas informações que me fizeram refletir sobre o lugar onde eu passaria doravante a morar... Resolvi também não sair no sábado, preferi passar o dia dando uma revisada no material de estudo do colégio agrícola, a final na segunda feira (09/01/1.984) eu iria abraçar a profissão de técnico agrícola e precisaria está afinado com as informações técnicas... Planejei dar uma saída no Domingo para conhecer a cidade, mas quando me levantei pela manhã o Sr. Lisboa já tinha saído pra votar no plebiscito... Resolvi aguardá-lo para saber como estava o movimento na rua... Por volta das 14:00 horas o Sr. Lisboa retornou dizendo que havia muitas pessoas votando, mas que tinha medo do resultado ser desfavorável.... Decidi sair à noite, pois talvez fosse melhor deixar encerrar a votação, mas logo em seguida fomos surpreendidos por uma grande tempestade, uma chuva forte acompanhada de trovões e ventos violentos que retorcia a mata próximo do Hotel, parecia que o mundo estava caindo sobre o telhado, muita poeira e no final muitas arvores derrubadas...Foi realmente uma boa chuva e conforme o Sr. Lisboa fora a primeira de 1.984, parecia que eu estava trazendo naquele tarde de Domingo o inverno que tantas pessoas aguardavam. Depois da chuva já era quase noite, mais uma vez resolvi não sair, pois imaginei que poucas pessoas sairiam a rua depois daquele dia exaustivo de votação com uma tarde chuvosa, melhor seria ver televisão, pois nos telejornais iria sair notícias de todo Brasil, inclusive sobre as diretas já. No dia seguinte, segunda feira muito cedo, me levantei ansioso pra conhecer o meu local de trabalho e todos aqueles que seriam meus colegas... Fiz o lanche que estava na mesa e sai a pé na direção da Gerência do DNOCS... Atravessei a pista da BR-222, seguindo-a e contornando o morro no sentido Fortaleza, subi o alto e dei com a gerência do DNOCS onde havia muitas pessoas chegando. Falei com todos que ali estavam dizendo que seria mais um a fazer parte do grupo de trabalho daquela repartição pública federal (DNOCS). Aguardei um pouco enquanto todos se acomodavam em seus ambientes de trabalho, e em seguida fui até a sala do Sr. Abelardo Cavalcante de Vasconcelos chefe de escritório da Gerência, um senhor sério, porém muito atencioso que me recebeu com muita decência indagando de onde eu estava vindo, contei-lhe minha historia afirmando que estava ali pra trabalhar com Técnico Agrícola no perímetro irrigado, esse me pediu para aguardar um pouco enquanto comunicava ao chefe superior Dr. José Martins, gerente geral do perímetro, sobre a minha chegada... Aguardei na sala, ansioso para saber se já podia trabalhar como funcionário... Em alguns minutos o Sr. Abelardo me conduziu até a sala do Dr. José Martins e ao abrir a porta vi um senhor muito sisudo, de cara trancada que foi logo me indagando se eu era o rapaz da Francisquinha (Francisca Leite, mais conhecida como Francisquinha, é a pessoa que me colocou no DNOCS e minha relação com ela deve-se ao fato de meu pai ser irmão adotivo da mesma) , confirmei que sim e ele me informou que eu iria trabalhar na equipe de campo do veterinário Roberto de Araújo Menescal... Adiantou que minha portaria de admissão nos quadros do DNOCS ainda não Havia sido publicada, mas enquanto isso eu fosse preparando a documentação pessoal junto ao Sr. Abelardo... Sai da sala e o Sr. Abelardo logo me apresentou ao Dr.Menescal onde passei a integrar a sua equipe de trabalho... Já era umas 7:30 horas quando saímos na camionete cabine dupla de cor preta até o escritório de campo que ficava no centro administrativo próximo ao setor III... Abordo deste veículo guiado pelo Sr. Altanir Mendes de Mesquita estava eu, o Sr. Raimundo manduca (prático veterinário) e o Dr. Menescal (veterinário) meu chefe imediato que não parava de fazer perguntas sobre minha pessoa e minha região (cariri).... Dr. Menescal era um cara bacana, brincalhão, muito prestativo, que teve um papel importante no inicio de minha chegada em forquilha ao me oferecer todo o apoio e confiança necessária num momento de incertezas e angustias tensões próprias de todos aqueles recém formados que assume pela primeira vez a sua profissão... Chegando ao escritório de campo conheci com detalhes boa parte da equipe composta por Dr. Menescal (chefe), Raimundo Manduca, Ari, Célio Cavalcante, Antônio Erasmo de Sousa (in memóriam), Carlos César Martins que chegou somente na parte da tarde e o Vicente Torres (técnico agrícola) que estava de férias... Foi um dia interessante, visitamos alguns animais dos irrigantes, passamos pelos lotes agrícolas e pelos núcleos habitacionais I, II e III... A tarde Carlos César Martins apareceu trazendo a noticia de que Forquilha havia conquistado a Independência política de Sobral no plebiscito do dia anterior e devido a esse feito a noite haveria comemorações com a celebração de uma missa em ação de graça na igreja matriz e festa no Orquídea Clube... Achei a notícia muito boa, pois eu acabara de chegar num lugar onde a prosperidade estava à vista e que eu iria fazer parte desse processo... Assim meus amigos e irmãos forquilhenses (mesmo não sendo filho dessa terra eu os considero) foram esses os primeiros momentos de minha chegada a essa terra maravilhosa chamada Forquilha, marcado por dois fatos interessantes que já mais os esquecerei: A seca com o retorno das chuvas e o Plebiscito com a emancipação política efetivada... Isso me marcou de tal forma que não poderia deixar de contá-los com esta narrativa. De lá pra cá muitos fatos notórios e brilhantes aconteceram envolvendo minha pessoa e esse lugar, mas que os deixarei para que os historiadores dessa terra os contem da forma mais pura e cristalina possível...
José Amaro dos Santos

3 comentários:

  1. Parabéns pela postagem Camarada, Excelente Narração!!!

    Com certeza sua chegada à Forquilha enalteceu ainda mais nossa "terrinha". Você é um legítimo cidadão FORQUILHENSE!

    Abração Amaro!

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  2. Meu irmão Amaro, só faltou lembrar da grande queda de motocicleta que sofremos nas estradas do Setor II.
    Abraços.

    Cristovam

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  3. Olá Amigo Cristovam! Vc embrou muito bem...nós a caminho do Setor II...São tantas coisas boas daquele tempo gostoso que não há como postar tudo aqui...Agora so recordações. Abraço.

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